segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Daquilo que não se pode descrever

A vida é poesia crua, bruta
Que a gente lapida pro papel
Mas não há palavra que possa dizer sem castrar
A beleza infinda do céu
Numa noite salpicada de estrelas
Onde o amor nos queima como a fome
Tão severa e tão enorme
Que nos dá vontade de comê-las

Nos dias em que queimo da febre incurável
Repleta como um rio caudaloso
As palavras são disparadas ao sol
E tem o cheiro do pêlo de um corcel indomável
O mundo é todo meu...
Nos dias em que me tomas domesticada
Chicoteando com força o coração cativo
Choro desesperadamente sem curativo
E toda aquela beleza se esvai em nada
Mas a verdade é que nada se perdeu...

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Tô chegando já

Você pode não saber
Nem sequer imaginar
Quantas vezes nesse longo dia
Em você irei pensar...
E amar... e negar... e querer...
Ai se pudesse me ver!
Tão seu, em posse da solidão
Ai se eu pudesse te tocar
Te materializar e te alisar a pele de veludo
Trocaria um sorriso imenso
De ipê amarelo no auge da primavera
Por esse eterno imaginar
Que faz adoecer a minha cabeça
Faz que enlouqueça mas não enlouqueça
Tô chegando já
Amor me espera...
Abrindo portas e janelas
Que a cada curva dessa longa estrada
A saudade não mais será o que era
Você pode não saber
Nem sequer imaginar
Quantas coisas dessa vida
Não querem me deixar voltar
E ao invés de morrer querem matar... e maltratar
Ai se eu pudesse prever!
Desviar o pé da pedra e antecipar a queda antes dela acontecer
Ai se eu pudesse evitar...
Tanto adeus a tornar doloridas as partidas
Trocaria pela doçura dos carinhos seus
Todo esse estranho penar
Tõ chegando já
Amor me queira...
Que longe dos seus braços
Tudo o que faço parece besteira

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Antes de dormir

Vem a noite engolindo o dia
Silenciosa e fria
Trás ao mundo a escuridão
A lua não esboça um sorriso
Muita gente está dormindo
Mas permaneço em prontidão

Acendo um cigarro pra escrever
Juro que não sei pra que
Vou procurando inspiração
Penso no meu bem agora acordado
Queria ele do meu lado
Mas vou dormir com a solidão







quarta-feira, 9 de junho de 2010

Retrato do poeta

Sangue, papel e caneta
O poeta já vai começar
Manda abrir a cerveja
Também o maço, a moça e o bar
Ele hoje está envenenado
Está sem rumo, sem prumo, sem lar
Mas não é isso que se pinta num quadro
Não revela no retrato um encontro sem par
Nele, mesmo só, se mostra como é de fato
Só alguém que vive de amar

É de verso que ele percebe a falta
Da falta que ela te faz
Como se agora estando em outros braços
Se sentisse abraçado por um pouco de paz
Parece sempre afoguiado, cantarolando
E nem sabia que disso era capaz
Por estar no momento presente
Deixou passado e futuro pra trás

Te ter

Tua pele me deixa com uma sede
Como de fogo que não se pode apagar
Teu corpo deixa em mim um rastro
Como o deixado na areia pela onda do mar
Teu braço me deixa tão leve
Como se fosse uma pluma no ar
Teu beijo me deixa sossegada
Como se a paz brotasse em todo lugar

Teu sim me liberta de mil angústias
Como se à todas deixasse em eterna alforria
Teu não me consome em arrepios
Como se deixasse antecipar o frio de outros dias
Teu olhar me preenche as arestas
Como se deixasse a certeza da alegria
Teu gênio me surpreende
Como se deixasse a fever até a água da pia

Teu amor envolve simplesmente
Como se fosse tão leve quanto o ar
Teu ciúme me delicia
Como se fosse maracujá com açúcar
Teu humor é contagiante
Como se o sol pudesse gargalhar
Teu cheiro é inebriante
Como se lançasse perfume no ar

Tua... estou...sou então
Como se saltasse de paraquedas no teu coração